quarta-feira, 1 de julho de 2015

Feitiço


Determinado,  o rio  nasce a fio e percorre o estreito e sinuoso caminho até ao leito onde se dá ao mar, não sem antes se engrossar na lezíria, espraiando-se dourado a oriente e abrindo o ventre a quem lavra caminhos entre margens ou continentes. 
Do alto da minha torre de vigia admiro o rio que corre ladeiro e calmo para os braços fortes e vigorosos do mar que o acolhe,  que o enleva e abraça em ondas lânguidas e apaixonadas, fecundando-o,  galgando-o em marés de sal salteadas de brisas e ventos poentes. 
Todos os dias, ao fim da tarde,  o clímax do sol  mergulha voluptuosamente na toalha de água que ambos lhe estendem e nasce a prata luz, por vezes redonda, daquela que é amiga e companheira da noite que enfeitiça quem para ela olha.
Lua que vagueia pelos quartos e brinca ás escondidas e, em dias de vaidade extrema,  se contempla no espelho de água serena e tranquila, iluminando a noite dos amantes.
Nesses dias, somos feiticeiras.

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