quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Retrato




"Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
              inunda minha vida inteira."             
                                                                                    Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

No início era o verbo...

Olho-te nos olhos.
Vejo-te por dentro. São janelas de ti que espreito.
Descortinam emoções que tapam as esventradas vidraças que ao piscarem, retomam os seus lugares.
(Prendo-as com as mãos)
Sinto-te em mim numa conexão cósmica, onde parece, já nos conhecermos de há muito. 
Será verdade?!
Completamo-nos.
Só as palavras projectam e formam planos de imanência
como bolas de sabão que desenham sonhos e vislumbram
futuros e quimeras.
Na tua boca se formam e nascem e eu recebo-as na minha onde fazem eco
e explodem em magma criador de espantos e deslumbramentos.
Fascinação. Loucura. Vórtice.
Atrai-nos e expulsa-nos de um paraíso já descoberto mas sempre (re)visitado com prazer.
O caminho sabemo-lo de cor e de olhos fechados guiamo-nos um ao outro,
num mapa-mundi de formas conhecidas, mas sempre à descoberta num acervo que é nosso,
catalogado há muito, cuja chave possuímos ancestralmente.
As palavras ditas, proferidas, gritadas, sofridas, zangadas... 
as palavras murmuradas, interrompidas, veladas, anunciadas, proscritas...
as palavras caladas, gastas, frias e findas.

   PA  -  LAVRA  - para lavrar, semear, crescer, colher, saborear, morrer.

Se no início era o Verbo, no fim È o silêncio!

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Vazio


A casa ficou vazia.
Pelas paredes escorre o silêncio forrado a papel.
Emparedados, os sonhos jazem em figuras fantasmas que deabulam pelo corredor.
Nas janelas espreitam raios de luz que penetram na fina névoa que parece nascer no ar.
Oiço o crepitar da lareira.
Sentada no sofá comtemplo as chamas que se retorcem e lambem os toros
que estalam os vestígios da seiva que os habita.
Navego nas imagens que se desenham na minha mente.
Pinturas fantasmagóricas crescem na tela que interpreto...
Procuro semelhanças, simetrias, perfis, desenhos que moldo e dou vida.
Registos  acásicos do que se passou, ou futuros premeditados, pressentidos?
São! Imagens! Momentos! Factos! passados, presentes, futuros...
Eram! Instantes... Fugazes... Foram!
A campainha tocou. A porta abriu-se. A casa encheu-se.
O coração descansou.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

"A Mão"

Vinte e sete ossos, 
trinta e cinco músculos,
cerca de duas mil células nervosas
em cada uma das pontas dos cinco dedos.
É quanto basta
para escrever Mein Kampf
ou A Casinha do Ursinho Puff.
                                                              (Wislawa Szymborska)