quarta-feira, 21 de março de 2018

Poesia


Do nada
surge a necessidade de semear palavras
lavrando o papel a tinta permanente
sulcando a inquietude na alma
e o desassossego no coração...
e o nada
transforma-se em tudo
em água, em sangue, em pão
razão de ser, fogo, brasa,
asa de liberdade, semente,
flor, sorriso, bastão.

Poesia...absolutamente!

terça-feira, 13 de março de 2018

Prender-te-ei




A chávena de chá exala a doce cidreira ou a bela luísa, empurrando o frio.
E as palavras dançam com os olhos no palco branco guardado por portas espessas.
As letras formam palavras, como etéreas cortinas à boca de cena...
A cada página, em cada virar de folha, o ponto diz as deixas...

Ainda não floriram os jacarandás...
Talvez ainda, as laranjeiras não tenham flor e o seu cheiro ainda não carregue o ar...
Provavelmente, os rios ainda levam muita água e o vento fustiga as árvores arrancando folhas...
É ainda possível que o mar  se agigante em mostrengas ondas...

O carreto desenrola o fio, dando largas à rédea solta da trama que enleia e absorve,
fixando imagens como fotolitos cravados em chapas
memorando instantes, vislumbres para sempre fixados, em cada vez que se abra de novo as portas...

- Prender-te-ei... !


quinta-feira, 1 de março de 2018

Letreiro...


A noite cose tafetás escarlates no avesso da alma.
Tece nas veias dúvidas e questões
e embainha medos em dobras nunca imaginadas.
À medida disse o letreiro...
Sonhado.
O dia ofusca brilhos irisados que emergem ainda amarrotados e dolentes,
escondendo a brava negritude.
À medida diz o letreiro...
Inventado.
Rasgando os olhos franzidos a custo,
a linha da vida alterna no pano
erguendo costuras que levantam o descaído e fraco corpo.
E avança,  e acrescenta, arrepanha,  tira e põe, dispõe... corta!
Nasce, renasce, ressuscita, transforma...
À medida dirá o letreiro... 
Vivido.