quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Autobus do Olimpo

Saíu a horas.
Cronos nunca se atrasa. Como motorista é exemplar.
Encheu logo à partida. Muitos Sísifos e Hefestos, algumas Vênus, Pandoras e Helenas, poucos Apolos, duas Heras.
Alguns semblantes carregados. O silêncio corta. Só o frou-frou das vestes se ouve. Alguma tosse, porque o tempo está instável. Por vezes surge um traje mais arrojado, numa nova forma de prender os panos. Aparecem alguns ganchos engraçados nos cabelos teimosos de caracóis apertados.
Todos voltam dos seus trabalhos e os dias são iguais de segunda a sexta. Saio a meio da viagem. Estou de volta a Academia.
Aguardam-me epopeias, tragédias, romanceiros e estórias de encantar. Todo o teatro da vida que pulsa e vive nos livros. 
Sou uma pequena mortal de óculos que, numa metamorfose adiada e tardia, se deslumbra e transforma, crisálida que se vê grega para chegar a horas.

Sem comentários:

Enviar um comentário