quinta-feira, 27 de março de 2014

Ventus

Sabes...
às vezes o vento sussurra-me ao ouvido
palavras que penso não conhecer,nunca as ouvi mas, sinto-as,
como se a língua estranha em que são proferidas
me seja  inata, mãe, ancoradouro, porto-abrigo.
A ladainha me embala e acolhe
em rochedo liso de água tépida, útero aconchego-inicial.
O principio o meio o fim, tudo converge,tudo se une, (re)une, unifica, cerne.
E o corpo balança, cede, dança e os cabelos são folhas
e os olhos estrelas e a boca fruto e os braços ramos e as pernas tronco
e os pés raízes que perfuram a terra e crescem,
espalham-se e sorvem a seiva profícua da origem.
Sou...
Semente, sémen, ovo, óvulo, célula, 
fragmento, parte, todo, nada...
Spiritus

Sem comentários:

Enviar um comentário